O Grivo

Puzzling is not a solitary game

Puzzling is not a solitary game

 

Concerto/instalação sonoro/visual do grupo O Grivo.

 

A interseção entre a tecnologia analógica e a digital, é o conteúdo sobre o qual o trabalho do O Grivo se inclina. O diálogo se estende por toda a instalação. A princípio, uma série de máquinas sonoras, funciona, como um um grupo de música de câmara, ou produzindo sons acústicos ou acionando sensores que, por sua vez, disparam sons. Aos músicos, cabe tanto gerenciar, como, transformar em tempo real, através de alguns softwares, a sonoridade das máquinas. O ponto em que o som acústico se confunde com o digital, um território híbrido, onde as nuances e sutilezas de timbre ocorrem, onde as transições podem ser conduzidas com cautela de forma a evidenciar todos os detalhes acústicos pertinentes às transformações das sonoridades, esse conceito é intenção, propósito e onde se apoia o O Grivo, na busca pelo timbre de cada som, no sentido da descoberta da forma de encaminhar sua música improvisada.

 

Outro ponto fundamental, onde o digital dialoga com o analógico, é a relação das máquinas sonoras com a projeção de imagens. No concerto/instalação, uma série de grupos de imagens, são acionadas pelas mesmas máquinas que acionam os sons. Nesse sentido a máquina sonora funciona também como um mecanismo de edição de imagens. As imagens são pré-gravadas e projetadas em um formato grande, estabelecendo um procedimento analógico com o zoom acústico. Um micro universo trazido à superfície por microfones de contato, câmeras e procedimentos musicais.

 

O Grivo, uma dupla de artistas audiovisuais brasileiros, cria instalações e performances que dependem da comunicação entre (e comunhão com) máquinas caseiras. As máquinas são construídas a partir de materiais simples: plataformas de madeira, engrenagens, fios, molas, latas, cordas, motores. Quando ativados, os componentes das máquinas giram, raspam, batem e sopram. Durante as apresentações, O Grivo envolve as máquinas com instrumentos acústicos e utilizam softwares para capturar e manipular seus sons.

 

Os sons dos instrumentos acústicos são geralmente transformados: posição espacial, filtros e efeitos, etc. Além disso, alguns tipos diferentes de objetos (molas, latas, folhas metálicas, caixas de madeira, etc.) são super amplificados por meio de microfones de contato, tanto músicos quanto ouvintes , através de um vocabulário de som hiper detalhado – uma espécie de zoom acústico.

 

O que antes poderia ser percebido como um tom desagradável ou colisão de partes é amplificado e conduzido com detalhes incríveis; a natureza do quadro muda, e a montagem de objetos precários e cotidianos é transmutada em uma orquestra mecânico digital.

 

Nessas transformações sonoras e espaciais, O Grivo interpreta os sinais das máquinas, mas também as une com gestos claramente expressivos, o que leva a momentos de lirismo, turbulência e reflexão.

 

Os desempenhos de O Grivo são moldados pelas máquinas escolhidas para a ocasião, e os músicos dialogam, repetem,  reiteram, estruturas e estratégias; mas cada improvisação é um “quebra-cabeça” distintivo, uma referência à de temática de Georges Perec: Vida : Modo de Usar (1978).

 

As articulações e diálogos entre as informações visuais e sonoras são fundamentais para construção de uma narrativa sobre textura, espaço, tempo, sobreposição, perspectiva, densidade, velocidade, repetição, fragmentação, etc.

 

Mais uma vez o que se propõe produzir é uma disposição contemplativa, por meio de um estímulo à percepção mais cuidadosa dos sons e estímulos visuais. Os espectadores são convidados também a um ambiente de mutação da experiência com o tempo. O movimento das máquinas se coaduna e dá novos significados aos tempos e andamentos musicais. A construção da linguagem musical acontece na articulação de elementos fortemente sensoriais. O que se procura é uma forma cristalina que deixe ver através dela cada nuance dos sons.

 

Por fim, não há uma ordem pré-estabelecida quanto à condução das improvisações… Como uma linha de tempo pré definida que indica qual máquina será ativada primeiro, por fim, ou simultaneamente …